segunda-feira, 30 de abril de 2012

Crônica - Um dia de verão inusitado

Um dia de verão inusitado

Era uma linda manhã de verão. Abafada, calor insuportável, sol causticante que provocava até um mal estar nas pessoas. O suor escorria pela minha face. O clima nos convidava para   refrescantes horas à beira da piscina ou mesmo uma visita providencial ao litoral. Eu me imaginava sentada debaixo de um guarda sol, acompanhada de alguns amigos, bebendo água de coco e jogando conversa fora. 

Porém, esses pensamentos e sonhos foram interrompidos pelas urgências e as obrigações do meu cotidiano. Ouço o toque do celular, anunciando um novo dia, abro os olhos e consulto o relógio, hora de pular da cama. Tomo uma ducha para me refrescar e começar mais um dia de labuta. Um dia como o de milhares de pessoas, corrido, atabalhoado e recheado de compromissos.

Logo de manhã,  sinto a falta de alguns ingredientes para o preparo do almoço. Resolvo, então, ir até ao supermercado da esquina próxima de casa. Caminho até a porta, destranco a fechadura, abro a porta e me dirijo ao elevador.

No elevador cumprimento alguns vizinhos, iniciamos, ou melhor, trocamos algumas palavras acerca da temperatura que nos castigava. Simples trocas de palavras, de forma educada e corriqueira na fugacidade dos encontros nos elevadores. Um comentário, porém, chamou a minha atenção, meu vizinho do andar de cima, conta-me que o porteiro  na noite anterior encontrara um homem caído na soleira do prédio ao lado do nosso. Tratara-se de um entregador de pizza que tivera um mal súbito. O porteiro chegou a tocar no corpo do homem que já estava frio e rígido, constatando tratar-se de um cadáver. Imediatamente, o porteiro atordoado discou o número da Central de Polícia, que demorou algumas horas para chegar e tomar as devidas providências que o caso solicitava. Ficando o cadáver ali exposto, assustando e atrapalhando a rotina dos moradores da região.

Após despedir-me dos meus vizinhos, em instantes, alcancei a rua e atravessei para o lado oposto do meu prédio, no intuito de chegar ao meu destino. Ia pensamento no relato do meu vizinho. Ao colocar os pés na calçada da esquina, súbito, senti que algo ou alguém havia roçado minha cabeça. Corri o olhar em torno e constatei que não havia  absolutamente nada ou ninguém. Dei mais alguns passos, qual não foi minha surpresa e novamente senti novo roçar ou coisa semelhante. Naquele momento, dado ao inusitado do acontecimento não conseguia distinguir ou saber o que estava acontecendo. 

Apressei os passos em direção ao supermercado, um novo roçar, corri desesperada até chegar ao comércio. Pensei que estivesse tendo uma espécie de alucinação, ou coisa semelhante... algo bem surreal. Além disso, a conversa no elevador tinha me deixado um tanto apreensiva. Cheguei ao supermercado agitada, confusa, desesperada, dizendo que estava sendo atacada, mas não sabia dizer o que era. Mil pensamentos vieram a minha mente.

Depois de me acalmar um pouco, conversando com as pessoas, descobri que eu havia invadido o território de uma família de quero-queros. Pois, no prédio da esquina havia um coqueiro e bem lá no alto se instalara uma família de quero-queros, cujo ninho abrigava alguns filhotinhos recém nascidos. Eu havia invadido o que há de mais sagrado, isto é, o sossego de uma família curtindo seus filhos recém nascidos na segurança do seu lar. Imaginem ... em plena capital paulista, em meio à agitação, ao caos e à poluição urbana, sofri alguns ataques de voos rasantes de um quero -quero que só queria, tão somente, proteger sua família.

Uma das características do quero-quero é ser uma ave territorial muito cuidadosa e vigilante.  Em consequência disso, manifesta-se de forma agressiva e protetora ao primeiro sinal de um intruso em seus domínios, seja dia ou noite. Tenho que confessar, até meio embaraçada... eu estava tão aturdida com a conversa no elevador acerca do entregador pizza encontrado morto, que cheguei até a pensar, imaginem!!! acometida por pensamentos sobrenaturais, estar sendo atacada por ele. Debaixo de um sol causticante, em plena cidade de São Paulo, em um dia de verão inusitado.


 o voo do quero-quero

3 comentários:

  1. Olá Elizabeth, eu em seu lugar sairia correndo, achando que era assombração. Eu hein!
    Aqui perto de casa sempre acontece isso, tem arvores que os quero-quero, fazem ninho, e sempre somos atacados.
    sou aluna da Rosemeire.
    Parabéns.
    Abigail.Bonifácio. Eja.

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  2. Oi, Abigail,
    O episódio com o quero-quero, realmente aconteceu comigo. Eu moro em São Paulo, cidade super-hiper urbana, o coqueiro fica pertinho da minha casa. Você não imagina como eu fiquei naquele dia, meu coração disparava tanto, hahaha... agora deu dou risada e até escrevo sobre isso, mas no dia foi terrível. Qual é a sua cidade?
    Grata pelo comentário,
    abraço
    Elizabeth

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  3. Olá Elizabeth, tudo bem? Moro em São Caetano do Sul, em São Paulo.Estou achando muito legal visitar o blog de voces.
    Parabens,desculpe por não responder antes.
    É que às vezes encontro dificuldades em acessar determinados assuntos no blog, mas vou mexendo até conseguir.
    Até a proxima.
    Abigail. Bonifácio. Eja.

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